segunda-feira, 10 de abril de 2017

Cem dias de Doria: o reacionário privatista

Em seu primeiro dia de mandato apareceu fantasiado de gari com seu sapatênis Oskeln na Avenida 9 de julho. Pura demagogia do milionário empresário com patrimônio declarado de R$180 milhões à Justiça eleitoral, na tentativa de se passar por trabalhador. Essa ação midiática serviu para anunciar, no mesmo dia, o programa de zeladoria e limpeza Cidade Linda, foi o início de uma verdadeira guerra que Doria declarou aos pixadores e grafiteiros da cidade.
Alguns dias depois, moradores de rua foram retirados da Praça 14 Bis, contra sua vontade, e transferidos para debaixo do Viaduto 9 de Julho, onde telas foram instaladas para esconder os moradores. Seus poucos pertences, como cobertores, roupas e colchões foram tomados pela “rapa” da GCM. Depois foi a vez de atacar a livre expressão nos espaços públicos retirando ambulantes, artesão e artistas de rua da Avenida Paulista. Mais adiante, o prefeito anunciou o programa "Redenção" para o tratamento de drogas na região da Cracolândia. O Esquerda Diário anunciou com antecedência o que seria visto posteriormente na região, a ação truculenta da polícia tratando os moradores de rua como andarilhos dignos de repressão. Assim, inegavelmente é a política do prefeito João Doria, higienista e de limpeza social.
O prefeito milionário trocou a vassoura pelo moto compressor, e dessa vez se fantasiou de operador de moto compressor. Mais demagogia para levar adiante políticas higienistas. Ele anunciou que apagaria o ex-maior mural de grafites a céu aberto da América Latina, assim como no “Arco do Jânio” no Bixiga. Doria passou tinta cinza sobre os grafites da cidade e gerou revolta que se estendeu por três meses após a sua posse. O prefeito dito trabalhador declarou seu ódio aos pixadores e à arte de rua com a intensificação da criminalização e completa intolerância, aprovando na câmara dos vereadores uma lei anti-pixo.
Na entrevista que concedeu ontem (9) ao G1 ele se orgulhou de ter aprisionado mais de 100 jovens ao afirmar: “Tem 102 pessoas que foram aprisionadas desde 2 de janeiro e continuarão a ser. Pichadores que pretenderem machucar a cidade, seja patrimônio público ou privado, serão aprisionados, vão responder criminalmente por crime ambiental de 3 a 12 meses de prisão, e mais as penalidades da Lei Cidade Linda, com multas de R$ 5 mil a R$ 10 mil. Comigo os pichadores não vão ter vez”. Essa afirmação é a certeza de que para o empresário vidas valem menos do que a propriedade seja ela pública ou privada.
Diana Assunção, ex-candidata a vereadora do MRT pelo PSOL, faz um vídeo denunciando a ação do prefeito. A denúncia viralizou e sua página foi e continua sendo atacada pela direita, principalmente por defensores de Doria e Bolsonaro, com comentários machistas, ofensivos, inúmeros xingamentos, ameaças de estupro e até de morte. O Esquerda Diário vem impulsionando uma enorme campanha de solidariedade a Diana, e diversos ativistas, vereadores, deputados, entre outros, manifestam seu apoio a ela. Diana carrega consigo a moral e exemplo as mulheres que participaram da Revolução Russa, e com amplo apoio nas redes sociais, Diana não se deixou abater e continua denunciando que “a cidade linda” de Doria não é apenas cinza, é privatizada também e que seu alvo não é apenas os grafiteiros e pixadores, ele cortou orçamento da saúde, educação, meio ambiente e cultura.
Sobre privatização, Doria selecionou uma lista com 55 ativos municipais a serem concedidos, privatizados ou negociados via Parcerias Público-Privadas (PPPs), permissões, comodatos, permutas ou até mesmo arrendamento. A lista inclui o Pacaembu, Parque Ibirapuera, Anhembi, serviço de iluminação, mercados municipais, bibliotecas, para citar alguns, o prefeito tucano incluiu também serviços que já estão sob gestão privada na capital. E não são poucos os exemplos de serviços já privatizados na cidade: varrição de ruas, coleta e reciclagem de lixo, abrigos de ônibus, relógios públicos, transporte escolar e de passageiros com deficiência, compartilhamento de bicicletas e até serviços municipais básicos, como creches e hospitais geridos por entidades sociais, via convênio. Doria criou a Secretaria Municipal de Desestatização e Parcerias, sob o comando do empresário Wilson Poit, para colocar a cidade à venda, e agora vai criar um fundo através da venda de mais de mil imóveis, entregando os serviços públicos de direito da população aos capitalistas.
Outra atrocidade planejada pelo prefeito é passar para a iniciativa privada a distribuição de medicamentos. Como existem poucas farmácias e hospitais privados nas periferias, a distribuição ficará concentrada no centro e bairros nobres da cidade. Mais uma vez o milionário prova o total descaso com o acesso da população mais pobre aos direitos mais básicos como o direito à medicação.
Mas os desmandos de Doria não têm passado despercebidos e sem resistência. Um ato reuniu 1500 pessoas a fim de protestar contra o congelamento da cultura. Os trabalhadores e trabalhadoras da cultura saíram às ruas no II Grande Ato em Defesa da Cultura reivindicando uma cultura pública para os trabalhadores que através de sua força de trabalho geram o dinheiro que é repassado para os projetos de fomento, mas que hoje tem pouquíssimo acesso a eventos artísticos e serão cada vez mais privados de atividades culturais com o congelamento desse repasse. http://www.esquerdadiario.com.br/Congelar-a-cultura-e-um-ato-sem-perdao
É necessário ressaltar como Doria e os golpistas estão lado a lado. Em um jantar dado por Michel Temer, o prefeito deixou de trabalhar para se reunir entre aqueles que são os responsáveis pelo golpe institucional no país.. O prefeito negou a possibilidade de sair candidato à presidência, porém, os jogos midiáticos para colocá-lo como alternativa não param. Ele declarou que aceitaria ser candidato a governador se essa fosse a vontade de Alckmin. Ou seja, diante de todo este conluio armado, cabe aos trabalhadores saberem que apoiar o Doria é também apoiar os ataques de Temer, como a reforma trabalhista, a reforma da previdência, a reforma do Ensino Médio e a terceirização, que em muito beneficiam os grandes empresários capitalistas como ele, Temer e seus aliados.
No fim de sua entrevista ao G1, o prefeito disse que vai aumentar a ação da GCM onde a juventude faz rolezinhos, principalmente no parque Ibirapuera. Segundo o prefeito foram encontradas bebidas "que não se pode definir" com esses jovens. A cidade não serve à juventude, não há espaços de lazer. Alguns parques esparsos e nada mais. O prefeito não está preocupado em fazer da cidade um espaço de interação, mas sim em reprimir mais e mais. Seu intento, como todo bom golpista, é governar para as empresas e para os capitalistas, pois nada se diz sobre o quanto as empresas lucrarão com todas essas privatizações. Enfim, segundo palavras do próprio prefeito, vamos ver quantos milagres não conseguirão ser realizados em sua gestão. Mediante tantos ataques contra trabalhadores, negros, jovens e mulheres, a rejeição a gestão do prefeito aumenta, enquanto também cresce a resistência da juventude contra os ataques dos capitalistas.

Publicado originalmente em http://www.esquerdadiario.com.br/Cem-dias-de-Doria-o-reacionario-privatista

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