sábado, 9 de outubro de 2010

Por Caio Mezzomo

Este texto foi escrito por Caio Mezzomo. Estudante de geografia na USP e mais importante que isso meu amigo pessoal. Devo dizer que assino embaixo em tudo que está escrito abaixo, e a seu pedido o publico aqui.

Segue:


Aviso aqueles que pretendem ler esse texto: ele possui um teor político eleitoreiro sim! Por isso, caso não seja do seu interesse, não perca seu tempo.

No dia 3 de outubro trabalhei como mesário em um colégio eleitoral da periferia de São Paulo. Um colégio infantil, não muito cheio, onde poucas filas se formaram e não houve nenhum incidente. Lá, presenciei um momento bonito onde, perante a escolha de representantes, o voto de um senhor muito pobre vale o mesmo que o de uma senhora abastada. Um momento muito bonito que pra muitos se torna um martírio. O fato de ter que se locomover(!) em pleno domingo pra ter que votar(!!) para muitos é um absurdo, assim como é um absurdo algumas opiniões políticas ditas por aqueles que se julgam as estrelas do país, que são os jovens das grandes cidades. Nesse texto, falarei daqueles que tenho contato diariamente, que são os jovens de São Paulo, cidade onde moro, trabalho e estudo. Longe de mim de querer julgar o motivo de escolha dos eleitores. Não tenho uma experiência de vida louvável de muitas conquistas apesar de ter batalhado significantemente por aquilo que possuo atualmente. Mas, algo que me incomoda e que tem saltado aos olhos nessas eleições de 2010 é a superficialidade em que se baseiam os julgamentos e decisões.

Ultimamente, os julgamentos que tenho escutado sobre esse ou aquele candidato beiram ao infantil: “Não voto na Dilma porque ela é terrorista!”, “O Lula perdeu o dedo para não mais trabalhar”, “Voto no Serra porque ele é um economista competente”, enfim, opiniões que para mim se igualam a uma “não gosto de fulano porque ele é...BOBO!”. Na minha modesta opinião, quando se conversa e se julga política, porque isso é necessário e saudável, não é a aparência física ou a forma de falar do candidato que conta, mas a circunstância e o projeto que ele representa. E é isso que tem faltado nessas eleições. Não é à toa que foram eleitas pessoas que não apresentaram um projeto, independente da visão política ou econômica, visto que quem julga isso é a população. Quando me dizem que elegeram o Tiririca por protesto, discordo, pois não acredito que a população protestaria contra uma situação piorando-a! O que tem faltado nessa eleição é a discussão de números, avanços, atrasos, conquistas, mudanças, enfim, onde queremos chegar. Isso não se discute, pelo menos não entre os jovens com quem tenho contato. Confesso que meu voto já tem uma dona, que é a ex ministra da Casa Civil Dilma Rousseff. Mas ela não o tem à toa. Ela o tem porque possui um respaldo dificílimo de ser contrariado, que são os avanços conquistados pelo governo que ela fez parte.

Confesso que já fui tucano, verde e petista. Confesso também que quando nos apaixonamos por algo, nutrimos preconceitos e nos cegamos a dados verdadeiros do campo adversário. E esse momento é um momento que estou apaixonado por uma causa, que é a continuação de um governo que fez bem a mim e aquilo que prezo, que é o meu país e também porque esse projeto me forneceu motivos para que eu me apaixonasse. Isso, claro, na minha opinião. Adoraria discuti-la e quem sabe mudá-la em certos aspectos, mas não é isso que ocorre. Quando tento discutir política com alguém, o que escuto são opiniões manjadas e em determinadas situações, banhadas a preconceito. Não digo isso porque defendo uma candidata, mas sim porque até agora ninguém me apresentou um bom motivo para que eu mude de opinião. Relacionar essa ou aquela pessoa a escândalos de corrupção sem que se possa provar é coisa pequena quando se tem um projeto pelo qual acreditar. Não digo que devamos aceitar casos de desvio de dinheiro público ou mau uso do poder público. Isso não é aceitável. Mas, quando se tem um programa, quando se tem resultados a zelar, quando se tem projetos a continuar, isso se torna algo pequeno. Afinal o que é mais importante? Discutirmos incessantemente o julgamento de dois rapazes, filhos da ministra que sucedeu à Dilma frente a um ministério, sem que tenhamos o poder de puni-los ou absolvê-los (isso cabe ao Poder Judiciário) ou apoiarmos ou não, através de algo que temos poder, que é o voto, um projeto que tirou mais de 25 milhões de pessoas da pobreza e que nos ajudou a conseguir um trabalho e melhorar de vida? É isso que se faz necessário discutir e não se esse ou aquele candidato discursa bem ou não.

Em suma, escrevi esse texto para declarar meu voto e para chamar aqueles que se julgam mais inteligentes que outros tipos sociais. Um jovem paulistano, qualquer um, se julga mais inteligente que um homem de meia idade do interior paraibano, não tenham dúvidas. O porém disso tudo é que o paraibano pode surpreender muitos de nós, pupilos da sociedade, por ter um pensamento crítico social muito mais aguçado que o nosso. Acredito que, se queremos ser mais respeitados ou caso queiramos conquistar um futuro mais sólido e agradável, devemos quebrar preconceitos e deixar de ter preguiça intelectual. Sair das opiniões lacônicas do Facebook e Twitter de vez em quando faz muito bem e pode até dar prazer.

sábado, 2 de outubro de 2010

Corrida liberal - "Time is money", and will take your life.


Você acorda todos os dias às sete horas da manhã, levanta, toma banho, não toma café porque na verdade você protelou e acabou levantando dez para as oito e saiu correndo da sua casa, tamanho era o seu cansaço... Aí você trabalha o turno da manhã, faz a sua hora do almoço e segue para o turno da tarde completando dessa maneira o período de oito horas de trabalho. Após isso segue para o ponto de ônibus e o pega lotado, ou caso tenha, pega o seu carro e vai para o trânsito, vai para a sua faculdade da qual você sai oficialmente as dez e meia, conversa com uns amigos, protela e acaba chegando em casa todos os dias dez para a meia-noite; aí você entra na internet, topa jogar uma partida de vídeo-game, ouve música, lê, precisa de alguma forma acreditar que a sua vida é mais do que aquilo que foi o seu dia. Eis o cansaço do dia seguinte.
Essa é a vida da maioria dos jovens da cidade. Se essa não é a sua, certamente você tem uma rotina de trabalho, seja de mais, de menos horas, contendo ou não, a faculdade à noite. Se não for a faculdade você precisa buscar seu filho na escola, chegar em casa e fazer janta; assiste a novela, entra na internet, lê umas notícias, compara com àquelas do Jornal Nacional porque você é inteligente e sabe que ele não é confiável, sente-se informado.
Twitta e dá risada com o que lê, se indigna. Fica em casa, arruma a casa, eventualmente em algumas sextas-feiras você sai com alguns amigos para uma cerveja. Fins de semana, no caso do estudante, é fato que se reunirá com amigos para tratar de algum trabalho, seminário, fará tudo de maneira insatisfatória para si mesmo, porque o tempo dele não foi feito para que ele pense, foi feito para que ele produza. Caso se sinta saturado não fará nada e irá para uma balada ou dormirá o tanto quanto puder para recuperar o sono perdido. No caso de uma pessoa casada, ficará com os filhos, fará um almoço em família, cumprirá com louvor a rotina modelo de felicidade, mas não entenderá quando por um momento se pegar pensando “Por que parece que não está tudo certo?”. Ah! Ou você vai ao shopping, pelo menos você cumpre com eficácia o sentido disso tudo, o consumo. Todos os dias você fica aguardando aquele feriado prolongado que permitirá que você faça uma viagem rápida, ou que permitirá que ao menos você consiga dormir até as dez. Isso você faz porque você precisa desesperadamente recuperar aquilo que o sistema tira de você: a vida.
Você tem uma família e tem filhos lindos e sente-se entediado por ser obrigado a viver uma rotina com eles, você não pode em uma segunda-feira de manhã pegar o carro e levá-los para ver o mar, porque isso fará com que eles percam aula, e pior que isso fará com que você perca o emprego. Sim alguém importante que não sei quem já disse que a escola é o primeiro meio para domar o rebanho, por isso o sinal, por isso os horários, por isso a disciplina. E o pior de tudo isso não é você ser obrigado a viver isso, o pior de tudo, é isso se naturalizar na sua mente. Sim você não é livre, não é livre nem para fazer e muito menos para pensar diferente.
Ah o pensamento! Esse é outro, coitado dele, nem consegue se desenvolver sozinho está sempre poluído com a moral, com a ética que leva você a concordar com essa realidade, e pensar que ser diferente disso é ser rebelde, vagabundo, reacionário sem causa, alguém que não vai crescer na vida. Fato, se você quiser ter um apartamento para poder dar um teto para o seu filho ou para si próprio, precisa correr junto, senão você simplesmente fica para trás, afinal você não nasceu rico e precisa chegar lá. Lá, ah o “lá”, lá é o lugar, o objetivo da corrida, o objetivo que te faz acreditar que tudo isso tem sentido. O que é lá, você consegue definir? Não, você não consegue ou você acredita que seja ter um carro, uma casa e continuar a sua vida exatamente como ela é.
Sem acento é uma nota musical. Faz mais sentido, pois toda essa bobagem faz você viver dentro de uma ilusão do que é certo, digno e eficaz. E a sua vida continua igual e um dia você chega lá, no túmulo. Só não esqueça de guardar um pouco do que você juntar nessa corrida liberal, para comprar um túmulo decente, para que os seus ossos não sejam retirados de onde você foi enterrado pelo governo após três anos.