sábado, 2 de outubro de 2010

Corrida liberal - "Time is money", and will take your life.


Você acorda todos os dias às sete horas da manhã, levanta, toma banho, não toma café porque na verdade você protelou e acabou levantando dez para as oito e saiu correndo da sua casa, tamanho era o seu cansaço... Aí você trabalha o turno da manhã, faz a sua hora do almoço e segue para o turno da tarde completando dessa maneira o período de oito horas de trabalho. Após isso segue para o ponto de ônibus e o pega lotado, ou caso tenha, pega o seu carro e vai para o trânsito, vai para a sua faculdade da qual você sai oficialmente as dez e meia, conversa com uns amigos, protela e acaba chegando em casa todos os dias dez para a meia-noite; aí você entra na internet, topa jogar uma partida de vídeo-game, ouve música, lê, precisa de alguma forma acreditar que a sua vida é mais do que aquilo que foi o seu dia. Eis o cansaço do dia seguinte.
Essa é a vida da maioria dos jovens da cidade. Se essa não é a sua, certamente você tem uma rotina de trabalho, seja de mais, de menos horas, contendo ou não, a faculdade à noite. Se não for a faculdade você precisa buscar seu filho na escola, chegar em casa e fazer janta; assiste a novela, entra na internet, lê umas notícias, compara com àquelas do Jornal Nacional porque você é inteligente e sabe que ele não é confiável, sente-se informado.
Twitta e dá risada com o que lê, se indigna. Fica em casa, arruma a casa, eventualmente em algumas sextas-feiras você sai com alguns amigos para uma cerveja. Fins de semana, no caso do estudante, é fato que se reunirá com amigos para tratar de algum trabalho, seminário, fará tudo de maneira insatisfatória para si mesmo, porque o tempo dele não foi feito para que ele pense, foi feito para que ele produza. Caso se sinta saturado não fará nada e irá para uma balada ou dormirá o tanto quanto puder para recuperar o sono perdido. No caso de uma pessoa casada, ficará com os filhos, fará um almoço em família, cumprirá com louvor a rotina modelo de felicidade, mas não entenderá quando por um momento se pegar pensando “Por que parece que não está tudo certo?”. Ah! Ou você vai ao shopping, pelo menos você cumpre com eficácia o sentido disso tudo, o consumo. Todos os dias você fica aguardando aquele feriado prolongado que permitirá que você faça uma viagem rápida, ou que permitirá que ao menos você consiga dormir até as dez. Isso você faz porque você precisa desesperadamente recuperar aquilo que o sistema tira de você: a vida.
Você tem uma família e tem filhos lindos e sente-se entediado por ser obrigado a viver uma rotina com eles, você não pode em uma segunda-feira de manhã pegar o carro e levá-los para ver o mar, porque isso fará com que eles percam aula, e pior que isso fará com que você perca o emprego. Sim alguém importante que não sei quem já disse que a escola é o primeiro meio para domar o rebanho, por isso o sinal, por isso os horários, por isso a disciplina. E o pior de tudo isso não é você ser obrigado a viver isso, o pior de tudo, é isso se naturalizar na sua mente. Sim você não é livre, não é livre nem para fazer e muito menos para pensar diferente.
Ah o pensamento! Esse é outro, coitado dele, nem consegue se desenvolver sozinho está sempre poluído com a moral, com a ética que leva você a concordar com essa realidade, e pensar que ser diferente disso é ser rebelde, vagabundo, reacionário sem causa, alguém que não vai crescer na vida. Fato, se você quiser ter um apartamento para poder dar um teto para o seu filho ou para si próprio, precisa correr junto, senão você simplesmente fica para trás, afinal você não nasceu rico e precisa chegar lá. Lá, ah o “lá”, lá é o lugar, o objetivo da corrida, o objetivo que te faz acreditar que tudo isso tem sentido. O que é lá, você consegue definir? Não, você não consegue ou você acredita que seja ter um carro, uma casa e continuar a sua vida exatamente como ela é.
Sem acento é uma nota musical. Faz mais sentido, pois toda essa bobagem faz você viver dentro de uma ilusão do que é certo, digno e eficaz. E a sua vida continua igual e um dia você chega lá, no túmulo. Só não esqueça de guardar um pouco do que você juntar nessa corrida liberal, para comprar um túmulo decente, para que os seus ossos não sejam retirados de onde você foi enterrado pelo governo após três anos.

15 comentários:

  1. Temos aqui de tudo um pouco no seu post... Um Severino de Cabral desiludido; um desejo de liberdade que às vezes soa como sonho de criança diante do nosso querido "Big Brother" de 1984 (George Orwell)... E, por último, um incomodo com a "disciplina" que evita (ou estimularia?) eventos como a desordem (ou seria a ordem?) proporcionada no romance O Senhor das Moscas.

    Citações a parte... Já deve ter dito alguém por aí, que a vida é o objeto mais estranho ao instinto de racionalização do homem, pois quanto mais a teorizamos mais descobrimos o nosso medo de que ela não passe disso que o mundo é: uma fagulha no meio do espaço.

    O sentido insistente que tentamos dar para vida talvez seja o pivô do nosso sofrimento, porque é duro para o único animal que se diz pensante, assumir que em relação a um evento tão importante como este, o ato de viver, simplesmente nunca temos resposta. E quando tentamos dar um sentido a ele através de algo mais subjetivo, como a liberdade... Nos deparamos com um muro, alto e largo, construído com os melhores tijolos... Nossas próprias convicções e experiências.

    A resposta a seus questionamentos tão angustiantes, infelizmente eu não tenho... Nem mesmo posso dizer que te proponho uma conclusão melhor da qual você mesma chegou...

    Mas, cara amiga te ofereço outra coisa: companhia.
    Porque se é para morrer sem nem mesmo saber quanto tempo seu corpo será digno do Reino da Terra pelas leis governamentais... Que pelo menos na vida possamos ter a honra de dividir nossa miséria... Que no fim, pode ser chamada de nossa glória.

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  2. hahahahahaha! Amanda! Em meio a falta de sentido, ao menos pessoas são um sentido! Obrigada pelo comentário!

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  3. Keyth Você tem um intinto de poetiza!

    Gosto muito de seu blog!
    pq você mete a boca no trombone e não tem medo de nada!

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  4. Infelizmente, pequena, a vida é cruel mesmo.

    Quando vc pega Marx pra ler, vê que poderia ser uma realidade mais próxima de nós.

    Mas daí paramos e pensamos "Poxa, vivemos numa sociedade democrática desde 89..." São apenas 20 anos...

    Temos 500 anos de abusos sem fim, de roubos e desmandos. Infelizmente mudamos muito e tão pouco tempo. Analisando os caciques de nossa política vê-se que eles foram criados dentro de um sistema coronelista mesmo... E que alguns ainda estão enraizados com isso. Vide Sarney, q nasceu no fim de um período de transição da monarquia para a república...

    Por mais que tenhamos a consciência que alguns aspectos deveriam ser mudados, nada acontece sem a vontade do poder. Infelizmente estamos vivendo num período em que muito se fala e pouco se faz.

    Infelizmente hoje quem manda é o capital. Menos do que antes, claro, mas ainda manda. Vemos a derrocada de um capitalismo que era tão ferroz que consumia gente como água - ainda consome, em uma quantidade menor, para a nossa sorte.

    Mas daí chega a sinuca, já que sabemos que esse capital que nos cerca não é bom, pq não o abandonamos? Pq não começamos mudando as nossas próprias ideologias tortas, que se entortam para sobreviver na sociedade moderna, para modificar o panorama? Simplesmente porque seríamos engolidos pelo sistema regente... E infelizmente precisamos sobreviver, comer, estudar e vestir...

    Analisando friamente, e apaticamente, estamos bem. Nossa economia cresce, nosso nome no exterior está cada vez mais fundamentado, mas e daí? Até quando vamos viver de uma realidade que não chega a todos?

    O que me irrita são os críticos de plantão, os comunistas/socialistas de front a suas telas de plasma e conexões de banda larga, que apenas criticam o sistema, e não lutam efetivamente conta ele.

    Aos que lêem as teorias marxistas e entra em seu Renault até a universidade pública, com sua mesada no bolso e o apoio da uma família por trás.

    Não sou contra esse tipo de militância, muito pelo contrário, a militância é livre em qq nível da sociedade, mas assim é fácil.

    Infelizmente vivemos numa sociedade que de tão desigual me força a votar em um candidato que apóia a direita rica da minha cidade, pois a esquerda pobre, que deveria fazer a mudança com os candidatos que realmente lutam por suas propostas, não o fazem.

    Infelizmente o vermelho que tanto me envolveu, mudou o tom, perdeu a cara, pois no meu país o vermelho é a cor da vergonha... do descaso, da corrupção.

    É a cor dos que batem em mulheres, dos que roubam o estado, dos que roubam o cidadão.

    Pior que do que viver numa ditadura é viver a incerteza da democracia recém formada, onde alguns, bons em alguns aspectos, pleiteiam modificar a constituição para o continuísmo.

    Enquanto isso persistir seu relato será o mesmo, creio que seremos companheiros de jornada por mais 50 anos.

    O que nos manterá vivos será a consciência, portanto, não pare de pensar, pois assim viverás para sempre...

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  5. Magno considero as suas palavras.
    Jamais pararei de pensar. Mas independentemente de qualquer coisa a realidade não me permite votar na cor azul.
    Abraço.

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  6. Como é né Keyth, sinceramente sempre tive uma indignação imensa em relação a vida e hoje após essa leitura é como vc estivesse descrevendo todo um sentimento guardado.
    Sim é isso mesmo, se vc pensar diferente vc é rotulado e descriminado como ´´diferente ´´ e não como ´´ pensador ´´, pois não fomos feitos para pensar e sim para produzir.
    sinto vontade de chorar .... é muita indignação com esse sistema DE MERDA!!!

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  7. Minha flor...
    Assim como a minha amiga Amanda acima, me propos como solução a companhia, é isso que te digo. Não estamos sozinhos.
    Se nada vale a pena, pessoas valem.

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  8. Parabéns.... Esse texto reflete uma forma bem sensata de observar a rotina diária e a forma como que o mundo nos aflinge e nos submete a uma correria desenfreada.... Muito Bom....

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  9. Key-chan... Entre no http://mundinhoexilado.blogspot.com/; pois estou te convidando a participar de uam blogagem coletiva. Se te interessar, entra lá que você entenderá!
    Bju

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  10. Uau... o que dizer depois dessa leitura da minha mente, pensamentos e sentimentos?!

    Estou agora liberta da culpa que até então me afligia... Nesse momento deveria estar escrevendo um trabalho que defenda o ensino de Literatura Portuguesa no Ensino Básico... e ao invés de estar produzindo algo que não concordo, estou me enriquecendo intelectualmente. Claro, estava a me culpar por
    tamanha negligencia, afinal, onde já se viu vadiar entre as palavras de tão caros amigos ao invés de produzir um artigo defendo algo no qual eu sou contra!! Que infamia me por a mostar a minha opinião, qdo na verdade deveria estar escrevendo um texto em terceira pessoa, com o desaparecimento do autor, no caso EU !!!!

    Tal leitura e tal desabafo não vão mudar o mundo, amanhã vou ter que escrever meu trabalho caso queira passar na matéria, só adiei a tarefa... afinal estamos presos no sistema, não há escapatórias. Mas ao menos farei de forma reflexiva, pois embora possam aprosionar nossas ações, jamais poderão aprisionar nossas mentes e espiritos inquietos.

    Querida Keyth, sou suspeita pra falar de vc tb. Apesar de descordamos muito, de termos visões muito diferentes sempre, te adimiro também, como ao Caio, pela inteligencia e criticidade !!!

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  11. Adorei o texto Keyth!
    O que eu mais estranho é ver/conhecer tanta gente com pensamento crítico e percepção do sistema cruel que nos impõe os trilhos da impotência e perceber que a mudança não me dá sinal, as forças não se unem, nem sequer imagino como e pra onde essa força poderia nos levar. Mas o sentimento de viver falsamente liberto - livremente aprisionado - me causa angústia e a certeza de que uma mudança é necessária. Se souber por onde começar me avise, amiga querida. Saudade!

    Klaus Bohms.

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  12. Po! Tu escreve bem mano!
    Klaus, isso não vai mudar, e te dizer o por que levaria horas.
    Somos educados para sermos assim desde pequenos, por meio da escola, igreja, moral, nossos pais...
    Livrar-se da própria formação é algo impossível, você pode racionalizar, questionar, mas se desprender totalmente, jamais.
    O que se poderia fazer? Viramos hippies? Irmos contra a sociedade? Mas abririamos mão do conforto pra nossa família? Abririamos mão do nosso dito conforto? Porque, o que essa busca traz é o que se acredita ser o "lá", mesmo que pra isso, como falei, vc chegue ao "lá" do cemitério.
    Todos os dias a consciência da minha condição me consome, mas o que poderia fazer? Diga-me vc, o que faria?
    Abraço amigo querido! ^^

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  13. Vou te falar que a minha atual situação é uma bela zona de conforto e eu nem daria atenção a nada disso se não fossem minha consciência e moral me chocalhando. Só se mobiliza mesmo quem está com a merda até a testa e eu, no máximo, ando pisando nela, o que não me faz indiferente, mas tão pouco potente pra sugerir mudança. Estou apenas atento e disposto, qualquer sinal de mudança me é bem visto. E sigo enxergando e refletindo no tempo - que por privilégio não é dinheiro - que tenho.
    (ô tempinho esse em que vivemos!')

    Beijo!

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  14. Sim, mas acho que isso não está muito ligado à nossa condição, é uma força maior que a gente e que é coercitiva. As vezes eu queria fazer uma revolução, mas daí caio na realidade e vejo que não tem jeito não...
    Bora fazer uma revolução? rsrsrs
    Bj

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