terça-feira, 6 de outubro de 2009

Morte do Leiteiro e o senso comum.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Morte do Leiteiro



A Cyro Novaes



Há pouco leite no país

é preciso entregá-lo cedo.

Há muita sede no país,

é preciso entregá-lo cedo.

Há no país uma legenda,

que ladrão se mata com tiro.



Então o moço que é leiteiro

de madrugada com sua lata

sai correndo e distribuindo

leite bom para gente ruim.

Sua lata, suas garrafas,

seus sapatos de borracha

vão dizendo aos homens no sono

que alguém acordou cedinho

e veio do último subúrbio

trazer o leite mais frio

e mais alvo da melhor vaca

para todos criarem força

na luta brava da cidade.



Na mão a garrafa branca

não tem tempo de dizer

as coisas que lhe atribuo

nem o moço leiteiro ignaro.

morador na Rua Namur,

empregado no entreposto

Com 21 anos de idade,

sabe lá o que seja impulso

de humana compreensão.

E já que tem pressa, o corpo

vai deixando à beira das casas

uma pequena mercadoria.



E como a porta dos fundos

também escondesse gente

que aspira ao pouco de leite

disponível em nosso tempo,

avancemos por esse beco,

peguemos o corredor,

depositemos o litro...

Sem fazer barulho, é claro,

que barulho nada resolve.



Meu leiteiro tão sutil

de passo maneiro e leve,

antes desliza que marcha.

É certo que algum rumor

sempre se faz: passo errado,

vaso de flor no caminho,

cão latindo por princípio,

ou um gato quizilento.

E há sempre um senhor que acorda,

resmunga e torna a dormir.



Mas este entrou em pânico

(ladrões infestam o bairro),

não quis saber de mais nada.

O revólver da gaveta

saltou para sua mão.

Ladrão? se pega com tiro.

Os tiros na madrugada

liquidaram meu leiteiro.

Se era noivo, se era virgem,

se era alegre, se era bom,

não sei,

é tarde para saber.



Mas o homem perdeu o sono

de todo, e foge pra rua.

Meu Deus, matei um inocente.

Bala que mata gatuno

também serve pra furtar

a vida de nosso irmão.

Quem quiser que chame médico,

polícia não bota a mão

neste filho de meu pai.

Está salva a propriedade.

A noite geral prossegue,

a manhã custa a chegar,

mas o leiteiro

estatelado, ao relento,

perdeu a pressa que tinha.



Da garrafa estilhaçada.

no ladrilho já sereno

escorre uma coisa espessa

que é leite, sangue... não sei

Por entre objetos confusos,

mal redimidos da noite,

duas cores se procuram,

suavemente se tocam,

amorosamente se enlaçam,

formando um terceiro tom

a que chamamos aurora.

Eis um poema belíssimo de Drummond, que não me sai da cabeça há alguns dias...
A interpretação dele não é difícil, nada sobrenatural não é necessária a mais profunda análise literária para que se entenda o teor do poema. De uma forma sutil, e branda Drummond lança uma critica a respeito de um tema, na época senso comum "ladrão se mata com tiro"; ideologias a parte o que eu quero trazer a tona é a idéia do senso comum. No poema um inocente perde a vida porque uma pessoa afetada pelo sistema, na realidade também uma vítima do contexto de medo daquela época ( estavam vivendo os tormentos da II Guerra Mundial), acaba permitindo que o medo, algo inerente naquele momento tomasse posse dele.
Eu não quero me aprofundar nesse post, mas atualmente tenho pensado nas coisas que penso, nas minhas visões, tenho pensado quanto delas é de fato meu, e quanto delas são resquícios daquilo que foi embutido em mim a cada dia. Pode-se pensar em tudo, pode-se pensar em questões políticas, ideológicas, pessoais e afins. Bom, aproveitem o poema, ele fala por si só.

domingo, 4 de outubro de 2009

Sou brasileira com orgulho e amor!

Eu tenho muita alegria em saber que o meu país sediará as Olimpíadas de 2016.
Eu não sou alienada e sei que o Brasil superfatura obras, sei que não investe em saúde, sei que que não investe em educação, sei de tudo isso, não é à toa que estou me preparando para ser professora e tentar fazer diferença por meio daquilo que acredito.
Quando ouvi a notícia de que o Rio sediaria as Olimpíadas quase chorei, um amigo me ligou e estava no mesmo estado de euforia que eu. Mas depois me entristeci, porque ouvi um monte de outro brasileiros dizendo que isso era ruim, que tudo seria feito para que "inglês visse", que o Lula é a melhor pessoa mesmo para convencer sobre o valor do Brasil, porque mesmo sendo "burro" era carismático.
Eu não tenho partidos, aliás na correria do dia-a-dia pouco consigo me ater ao que acontece no cenário político, o que é uma pena. Também evito ler notícias que saem no Jornal Nacional, Folha de São Paulo e afins, melhor ficar desinformada. Porém, ver brasileiros desmerecerem o próprio país, os mesmos brasileiros que louvam o patrisotismo norte-americano, soa no mínimo contraditório.
Eu sei de todos os problemas, mas os problemas não são desculpa para que um evento como esse não aconteça no Brasil, e no meu íntimo fico pensando: "Se é tão ruim que superfaturem as obras, e isso é um motivo para alguns 'brasileiros' para que o Brasil não seja digno de as Olimpíadas, por que esses mesmos brasileiros não cobram a transparência devida?". É muito mais fácil colocar alguém no congresso e dizer que ele representa os meus direitos e que faz tudo errado, quando eu fico na minha vidinha confortável sem fazer nada pelo meu país.
Alguns fazem alguma coisa, ajudam de alguma forma, trabalham no terceiro setor. Acham que já fazem o suficiente, acham que cumprem o seu dever político. Bom sei lá, pelo menos fazem alguma coisa. Porém, isso não os tornam aptos a dizerem o que é bom ou não para o meu país.
Hoje eu tive o desprazer de ouvir um brasileiro dizendo que o problema do Brasil é a mentalidade do brasileiro, tive um desprazer maior ainda em ouví-lo dizer que o que nós herdamos e o que nos fez ter essa mentalidade foi "aquela coisa do índio", "descansar", "to com fome pego uma coisinha ali na árvore". Que triste, eu não tenho outra coisa para sentir em relação a esse comentário preconceituoso e cheio de desconhecimento sobre a cultura indígena do que tristeza.
Eu lembro que quando estava no colegial, com toda a imaturidade que tinha naquela idade, escrevi uma redação com o título "Índio é que sabia viver", lembro-me que discursei sobre o estilo de vida indígena, falei que eles sabiam viver, viviam nas suas terras, não tinham noção de propriedade (noção que qualquer leigo sabe o quão maléfica é), viviam em harmonia com a natureza, tinham sua crenças, etc, escrevi com o pouco conhecimento que tinha sobre o assunto, e no fim escrevi: "Se alguém discorda de que índio sabia viver, pode então pensar que se eles não sabiam viver, ao menos não tinham como principais problemas, estresse e depressão", o que sabemos são os males deste século. A sociedade massacrante atual, só nos leva a esses problemas, e hoje eu ouvi um brasileiro dizer, ou melhor, dar a entender que o que herdamos deles foi, em outras palavras a "preguiça". Que desprazer. Que desprazer!
Lula em seu belíssimo discurso sobre o Brasil em Copenhague, disse que o Brasil é misturado, e que brasileiro gosta de ser misturado... é eu não acho, alguns brasileiros me comprovam o contrário constantemente.
Nós herdamos a cultura indígena, e eu sei muito bem disso, aliás mais abaixo postei um artigo sobre a carta de Pero Vaz de Caminha, constratando a cultura indígena da época e dos portugueses, claro como tudo que se pensa a respeito dos motivos reais da história, é apenas uma análise, jamais se chegará a um conhecimento verdadeiro a respeito do que se deu, porque cada época possui uma mentalidade diferente, mentalidade que nenhuma análise, teoria, livro de história ou professor é capaz de captar. Podemos sim especular sempre a respeito, mas...
Nós herdamos a cultura indígena, e herdamos também a idéia de que o Brasil é uma "droga", de que serve apenas para ser explorado, de que qualquer lugar do mundo é melhor do que aqui; o que mais vemos são brasileiros que dariam tudo para irem morar na Europa ou nos EUA, porque lá trabalhando em serviços considerados subalternos pela maioria, sentem-se mais valorizados. Preferem ir lá e "rebaixaram-se", do que trabalharem em um restaurante aqui. Preferem ir lá e servirem de empregados desses países, preferem substituir a força braçal deles do que servirem de força seja braça ou intelectual aqui. Essa distinção entre força braçal e intelectual é apenas ilustrativa, eu jamais desvalorizo nenhum tipo de trabalho digno, afinal meu pai cuidou de mim durante toda a vida sendo pedreiro, fazendo carreto, e eu me orgulho disso, porque ele fez isso aqui, no país dele. Essa idéia veio com aqueles portugueses, que queriam apenas explorar o Brasil, e com todos os outros estrangeiros que possuíam essa mesma idéia e que vieram posteriormente, acredito que também não se deva generalizar os que vieram, afinal o problema de qualquer lugar em relação à apatia social é o ser humano em si, e não a sua nacionalidade.
Eu não desvalorizo nenhum povo, nenhuma história, e seria louca se desvalorizasse o meu povo, como posso ser preconceituosa comigo mesma??? Inacreditável! Lamentável!
Eu me orgulho do meu país, porque o meu país é cheio de gente que levanta quatro horas da manhã para trabalhar e sobreviver, sustentar sua famílias. Alguns como eu, levantavam cedo trabalhavam para pagar o seu cursinho e conseguir estudar em uma boa universidade. Outros como eu, continuam levantando cedo, trabalhando e fazendo faculdade. Isso é o correto? Talvez não, deveríamos ter a opção de permitir que os nossos jovens apenas estudassem, que se dedicassem as suas faculdades com plenitude, que os pais de família tivessem salários mais dignos, e que a vida do brasileiro fosse mais digna. Sim, esse é o ideal, mas por enquanto não é a realidade, e nem vai ser se os que aqui estão hoje não fizerem esse sacrifício para as futuras gerações.
Eu não tenho vergonha do esforço que a maioria dos brasileiros precisa fazer para sobreviver, do esforço que eu como brasileira faço, também não acho que esse estilo de vida deva se perpetuar, mas quando vejo o completo descaso dos próprios brasileiros para com o seu país me estristeço e fico pensando que isso será sempre assim.
Muitas nações se levantaram depois de guerras etc, mas eles trabalharam pelo seu país, e em primeiro lugar eram, e são até hoje nacionalistas. Talvez essa seja a diferença entre eles e a gente, a diferença não está na capacidade, está na forma como se enxerga a mudança.
Eu amo o meu povo, amo ter descendência indígena e sofro quando penso o que seríamos hoje se não tivessemos sido colonizados, talvez hoje eu fosse uma índiazinha feliz, vivendo em paz e pegando uma banana na árvore quando tivesse fome. Porém sou isso hoje, um modelo imposto de vida, de "civilização", que massacra e tira a dignidade da grande maioria.
Esper um dia me deparar com brasileiros que amem a sua história de superação, e amem o povo batalhador que possuem. A falta de educação é um problema, muito mais poderia ser feito se o nosso povo fosse politizado, mas isso na maioria das vezes, e todo mundo sabe, não é escolha deles.
Muito triste brasileiros que conhecem sua própria história de colonização, não exnxergarem que a mudança é um processo que se dá com cada um fazendo a sua parte, em qualquer área, dentre elas a educação, e que essa mudança deve se dar de acordo com o nosso povo e não copiando modelos de vida que são completamente diferentes simplesmente porque têm de ser.
Eu não vou mudar a cabeça de gente feita, não tenho essa pretensão e muito menos quero me esforçar para isso, já tenho muito o que pensar e definitivamente prefiro perder tempo assistindo novela do que lidar com esse tipo de mentalidade.
E por enquanto sigo, fazendo minha parte pelo meu país sendo brasileira com orgulho e amor, idealista que seja! Eu não me importo, estudando para isso, vivendo para isso, acordando cedo todo os dias para isso. Porque eu acredito no meu país, sou consciente da minha nacionalidade, e de que quebra conheço um pouco da minha origem....

sábado, 19 de setembro de 2009

They don't care about us..

Eis a música que não consigo parar de ouvir! "They don't care about us" do Michael Jackson para variar! rsrsrs
Segue letra e tradução...

Skin head Skinhead
Dead head Sem cabeça
Everybody Todo mundo
Gone bad Ficou louco
Situation Situação
Aggravation Frustração
Everybody Todo mundo
Allegation Alegação
In the suite No quarto
On the news Nas notícias
Everybody Todo mundo
Dog food Comida de cachorro
Bang bang Bang back
Shock dead Morte chocante
Everybody's Todo mundo
Gone mad Ficou louco


All I wanna say is that Tudo que quero falar
They don't really care about us É que eles não ligam pra gente
All I wanna say is that Tudo que quero falar
They don't really care about us É que eles não ligam pra gente


Beat me Bata em mim
Hate me Odeie-me
You can never Você nunca vai
Break me Me quebrar
Will me Procure-me
Thrill me Emocione-me
You can never Você nunca vai
Kill me Me matar
Judge me Julgue-me
Sue me Processe-me
Everybody Todo mundo
Do me Acabe comigo
Kick me Chute-me
Kike me Estraçalhe-me
Don't you Não diga que sou
Black or white me Preto ou branco


All I wanna say is that Tudo que quero falar
They don't really care about us É que eles não ligam pra gente
All I wanna say is that Tudo que quero falar
They don't really care about us É que eles não ligam pra gente


Tell me what has become of my life Diga-me o que aconteceu com minha vida
I have a wife and two children who love me Tenho uma mulher e dois filhos que me amam
I am the victim of police brutality, no Eu sou vítima da violência da polícia
I'm tired of bein' the victim of hate Estou cansado de ser vítima do ódio
Your rapin' me of my pride Você roubando o meu orgulho
Oh for God's sake Oh, pelo amor de Deus
I look to heaven to fulfill its prophecy Olho para os céus para cumprir a profecia
Set me free Liberte-me


Skinhead Skinhead
Deadhead Sem cabeça
Everybody Todo mundo
Gone bad Ficou malvado
Trepidation Trepidação
Speculation Especulação
Everybody Todo mundo
Allegation Alegação
In the suite No quarto
On the news Nas notícias
Everybody Todo mundo
Dog food Comida de cachorro
Black man Homem negro
Black mail Chantagem
Throw the brother Jogue o cara
In jail Na cadeia


All I wanna say is that Tudo que quero falar
They don't really care about us É que eles não ligam pra gente
All I wanna say is that Tudo que quero falar
They don't really care about us É que eles não ligam pra gente


Tell me what has become of my rights Diga-me o que aconteceu com meus direitos
Am I invisible 'cause you ignore me Eu sou invisível? Porque você me ignora
Your proclamation promised me free liberty, no Sua proclamação me prometeu liberdade
I'm tired of bein' the victim of shame Estou cansado de ser vítima da vergonha
They're throwin' me in a class with a bad name Eles estão acabando com minha reputação
I can't believe this is the land from which I came Não acredito que essa é a terra de onde vim
You know I really do hate to say it Você sabe que eu na verdade odeio falar isso
The government don't wanna see O governo não quer enxergar
But if Roosevelt was livin' Mas se Roosevelt estivesse vivo
He wouldn't let this be, no, no Ele não deixaria isso acontecer, não


Skinhead Skinhead
Deadhead Sem cabeça
Everybody Todo mundo
Gone bad Ficou malvado
Situation Trepidação
Speculation Especulação
Everybody Todo mundo
Litigation Litígio
Beat me Me bata
Bash me Me difame
You can never Você nunca poderá
Trash me Me derrubar
Hit me Me acerte
Kick me Me chute
You can never Você nunca poderá
Get me Me pegar


All I wanna say is that Tudo que quero falar
They don't really care about us É que eles não ligam pra gente
All I wanna say is that Tudo que quero falar
They don't really care about us É que eles não ligam pra gente


Some things in life they just don't wanna see Algumas coisas eles não querem enxergar na vida
But if Martin Luther was livin' Mas se o Martin Luther estivesse vivo
He wouldn't let this be, no, no, no, yeah, yeah, yeah, yeah Ele não deixaria isso acontecer, não, não, não, sim, sim, sim, sim


Skin head Skinhead
Dead head Sem cabeça
Everybody's Todo mundo
Gone bad Ficou malvado
Situation Trepidação
Segregation Especulação
Everybody Todo mundo
Allegation Alegação
In the suite No quarto
On the news Nas notícias
Everybody Todo mundo
Dog food Comida de cachorro
Kick me Me chute
Kike me Me discrimine
Don't you Você não
Wrong or right me Venha me julgar


(They keep me on fire) (Eles me deixam em chamas)
All I wanna say is that Tudo que quero falar
They don't really care about us É que eles não ligam pra gente
(They keep me on fire) (Eles me deixam em chamas)
All I wanna say is that Tudo que quero falar
They don't really care about us É que eles não ligam pra gente
(I'm there to remind you) (Estou aqui pra te lembrar)
All I wanna say is that Tudo que quero falar
They don't really care about us É que eles não ligam pra gente
All I wanna say is that Tudo que quero falar
They don't really care about É que eles não ligam pra gente
All I wanna say is that Tudo que quero falar
They don't really care about É que eles não ligam pra gente
All I wanna say is that Tudo que quero falar
They don't really care about us É que eles não ligam pra gente


Apesar da tradução não ser literal, concordo com ela...
Bjsss

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Carta de Pero Vaz de Caminha.

Há um tempo estou ensaiando para postar a respeito da Carta de Pero Vaz de Caminha... Tive que fazer um trabalho final na faculdade a respeito do tema, e simplesmente me deliciei.
Todos sabem, a carta é um documento que Caminha enviou para o rei de Portugal a respeito de suas impressões no encontro com os indígenas.
A leitura é simplesmente fenomenal, qualquer pessoa é capaz de saber que hoje a nossa cultura e os nossos costumes são uma mescla do que veio da Europa com os portugueses e afins, dos indígenas e dos negros africanos em primeira instância. Com o decorrer do tempo mais culturas se infiltraram e criaram o que somos hoje. Algo de que tenho orgulho, somos um povo mesclado, sem caráter no sentido de característica, topamos todos os dias com negros, loiros, ruivos, pardos, amarelos, e tudo quanto é "tipo" de gente; além disso andar por São Paulo é um constante encontrar-se com a desigualdade social, basta descer da Paulista e ir até a Praça da República e qualquer ser humano conseguirá enxergar essas diferenças. A única coisa ruim em meio a isso, é que lidamos de uma forma bastante natural com toda essa diferença social, que infelizmente em sua grande maioria é o resultado de como não sabemos lidar com as diferenças étnicas.
Bom toda essa introdução, serviu para que se possa entender o que escrevi a respeito da carta.
A proposta era justamente esta, constratar as duas culturas, apresentar a impressão de cada um dos povos, as suas reações, as suas conclusões... Como foi interessante pensar sobre isso! Podia me enxergar nos dois povos, e pude ver como não tenho um caráter específico e por mais incrível que pareça isso me deixa MUITO feliz! Porque isso permite que lidemos com as diferenças obrigatóriamente, uma vez que infelizmente muitas pessoas ainda acreditam que elas existam. De qualquer forma problema delas! Terão que lidar para sempre com essa diversidade, só é ruim porque sabemos que existem as minorias vítimas do preconceito.
Sem mais delongas para quem quiser ler a carta na íntegra, segue um link para que possam lê-la:http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=552.
Ela claro é relativamente extensa, mas acredito que quem se esforçar e ler, poderá aprender muito sobre si mesmo, sobre o mundo em que vive e sobre sua origem.


Abaixo segue o meu trabalho da faculdade, que nada mais é do que as minhas impressões sobre a carta. Espero que gostem! Espero que leiam! Espero que pensem, espero que discordem, espero que criem interpretações novas, porque só assim como um todo se consegue chegar em algum lugar.
Leiam e identifiquem o que de vocês é indígena e o que de vocês é português rsrsrs.

Segue:

Pensando sobre o conceito de Godino de que descobrimento permite o “diálogo entre economias e culturas diferentes [...] (p.72), e por meio da análise da Carta de Pero Vaz de Caminha é possível contrastar diferentes aspectos entre a cultura dos portugueses europeus e a dos índios, diferentes formas que a humanidade pode se desenvolver e criar sua própria cultura isoladamente, e como de fato em continentes separados isso se deu.
A diferença entre os portugueses e os índios obviamente como já é sabido, existia porque a cultura européia já estava “desenvolvida” e mais “adiantada”, estavam descobrindo rotas de comércio, enquanto os índios sul-americanos viviam livremente e suficientemente para as suas necessidades com a natureza. Porém as maiores diferenças eram um tanto quanto mais tênues e complexas e não estavam apenas ligadas a fatores econômicos, mas sim aos costumes, à cultura, ao pensamento e a visão que cada um tinha do mundo, e até mesmo às suas limitações que se davam pela falta do conhecimento do outro.
Culturalmente a diferença é citada logo no início por Pero Vaz: “Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhe cobrisse as suas vergonhas” [...] (p. 23), esse primeiro choque cultural, já deixa clara a diferença existente em relação às crenças, pois os índios não possuíam a religião cristã, e evidentemente não seguiam os mesmos dogmas dos portugueses. Caminha mais adiante reconhece que os nativos sequer tinham noção de que a nudez era algo digno de reprovação para uma outra cultura, e muito menos que a nudez era algo vergonhoso: “Andam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor caso de cobrir ou mostrar suas vergonhas, e nisso são tão inocentes como quando mostram o rosto” [...] (p. 25); este fato atesta a questão do desenvolvimento humano que se deu de maneiras distintas entre os povos. Outra situação que demonstra a diferença entre visões de mundo se dá quando os dois índios entraram nas naus, Caminha cita: “ E eles entraram sem qualquer sinal de cortesia ou de desejo de dirigir-se ao Capitão ou a qualquer outra pessoa presente, em especial. Todavia, um deles fixou o olhar no colar do Capitão e começou a acenar para a terra e logo em seguida para o colar, como querendo dizer que ali havia ouro. Fixou igualmente um castiçal de prata e da mesma maneira acenava para a terra e logo em seguida para o colar, como querendo dizer que lá também houvesse prata.” [...] (p.25); não se pode dizer ao certo se a interpretação de Caminha em relação ao que o índio quis dizer estivesse completamente correta, mas percebe-se claramente que os conceitos em relação ao valor de tais metais eram totalmente opostos, pois se o índios atribuíssem o mesmo valor que os portugueses obviamente não o ofereciam tão facilmente, além disso o fato de os índios não demonstrarem reverência também demonstra que os índios não entendiam que ali havia um capitão que deveria ser tratado de maneira especial, e que em seus costumes tais formalidades talvez fossem dispensáveis; tal fato não quer dizer que os índios eram desrespeitosos, mas simplesmente que os conceitos de respeitabilidades também eram distintos. A simples análise da carta não nos permite saber o que significava hierarquia ou reverência para os índios, apenas nos permite ver a diferença a respeito do que isso significava para os lusitanos.
A distinção mais relevante que pode ser citada durante a análise da Carta de Pero Vaz de Caminha se dá em relação à aceitabilidade. Durante todo o contato feito, pouco se pode saber sobre o pensamento real dos indígenas, pois a carta apresenta apenas a visão dos “descobridores”; dos índios, o que se percebe é apenas a aceitabilidade, a qual serve como eixo de entendimento das diferenças existentes em relação aos portugueses. Eis um trecho da carta: “Traziam nas mãos arcos e setas. Vinham todos rapidamente em direção ao batel. Nicolau Coelho fez sinal que pousassem os arcos. E eles assim fizeram.” [...] (p.23), mais adiante no decorrer da carta Caminha narra o comportamento dos portugueses e suas atividades; após cumpri-las os portugueses voltavam para suas naus. A análise da aceitabilidade é ampla e se dá durante todo o estudo da carta e não apenas por trechos isolados, os portugueses por não conhecerem as gentes com quem estavam lidando mandaram um degredado fazer o primeiro contato real com os índios, e aquele foi e voltou das habitações indígenas. Os índios claramente não eram ignorantes, e sua primeira reação foi defensiva, porém logo que perceberam um sinal de “paz” eles acataram e se permitiram conhecer o outro povo; enquanto os portugueses “desconfiados”, por precaução, mandaram apenas um de seus homens coabitar com os índios e sempre retornavam as suas naus, sem tentarem uma aproximação mais aprofundada com os nativos. É claro que isso não nos permite dizer que os portugueses eram um povo pouco receptivo, mas é evidente que possuíam uma malícia que já havia sido adquirida por meio de contatos com outros povos anteriormente, essa é uma das atitudes lusas que contrasta com o eixo de aceitabilidade.
A receptividade indígena também é vista em momentos como o da missa, em que os índios presentes se prostraram diante da imagem da cruz, repetindo os gestos dos estrangeiros. Poder-se-ia pensar que os portugueses se julgavam melhores, mas a carta por si só não nos permite tal julgamento, permite apenas e é claro notar que os portugueses desejavam transpassar aquilo que de melhor acreditavam ter em relação as suas crenças como se pode perceber no trecho a seguir: “E o fato de Ele nos haver até aqui trazido, creio que não o foi sem causa. Portanto Vossa Alteza, que tanto deseja acrescentar à santa fé católica, deve cuidar da salvação deles. Aprazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim!” [...] (p.41). Essa pode ser considerada mais uma atitude lusitana, claro que não de forma cronológica, citada na carta contrastante com a aceitabilidade, não havia interesse dos portugueses em conhecer qual eram as crenças indígenas, aliás eles julgaram que estes não as possuíam: “Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências.”; apesar de as aparências não revelarem muito sobre este tema, também não houve grandes esforços para se entender, ao menos em primeira instância.
Outro trecho interessante da carta e que vai de encontro a questão da aceitação, é o quando Caminha descreve o índio ajudando os portugueses, e ajudando com prazer: “E trabalhavam como os nossos, tomando nisso grande prazer”. É claro que seria algo um tanto quanto desnecessário os portugueses serem prestativos para com os indígenas, pois não conheciam a sua forma de vida, mas essa servidão indígena certamente não era algo comum entre todos os povos que se encontravam. Claro que o indígena não era um ser superior, elevado por essas atitudes, todas elas estavam atreladas aos seus interesses também, mas isso é algo que pouco pode se notar, a não ser nos momentos em que Caminha cita os índios pedindo algo em troca: “Próximos dele lançavam os barris que nós pegávamos e depois pediam que lhes dessem alguma coisa por isso” [...] (p.27). Infelizmente a carta não nos permite dizer se havia interesse nessa servidão, interesse a longo prazo, como era o caso dos portugueses, nós apenas conseguimos enxergar a visão européia que claramente estava cheia de intenções como o próprio Caminha diz: “ Depois tirou-as e com elas envolveu os braços e acenava para a terra e logo para as contas e para o colocar do Capitão, como querendo dizer que dariam ouro por aquilo. Nós assim o traduzíamos porque esse era o nosso maior desejo...” [...] (p.26).
Em síntese essa breve análise não permite analisar pormenorizadamente a complexidade da Carta de Pero Vaz de Caminha muitos outros trechos poderiam ser citados e ilustrar muitas outras questões, o que se tentou foi em primeira instância analisar as questões culturais mais relevantes, e em seguida diferenciar as atitudes dos povos que se encontravam por meio do eixo de aceitabilidade indígena, pois como a carta possui uma visão unilateral, pode-se apenas ter resquícios e pouco pode se afirmar quanto as intenções reais indígenas, a não ser pelo que o próprio Pero Vaz de Caminha enxerga. Dizer que os indígenas eram inocentes ou ingênuos, e que os europeus eram maus e queriam apenas explorar, também não é algo que a carta nos permite dizer, tal interpretação seria parcial, e necessitaria de dados históricos para ser feita. Enfim, claramente a diferença entra as duas culturas era evidente, mas essa análise não apontou o que seria positivo ou negativo, pois tal julgamento seria baseado em uma visão contemporânea e não poderia suprir a complexidade dos fatos históricos, e muito menos a cultura daquela época.


Beijossssssssssssssssssss

terça-feira, 16 de junho de 2009

Carta de uma professora da USP

Tirem suas próprias conclusões...

Carta da professora Adma Fadul Muhana.

Mas há primaveras

A comunidade universitária e a opinião pública têm procurado, atônitas, acompanhar os acontecimentos recentes na Universidade de São Paulo. Como acreditar que professores, alunos e funcionários da USP, em especial da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, sejam criminosos cujos atos merecem ser severamente reprimidos com bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e gás pimenta? Como acreditar que querem destruir seu patrimônio, agir com violência e causar danos aos demais? quem acredita nisso? por quê? Se se compararem as informações e declarações dos últimos dias, será possível repor a situação. Em plena negociação salarial, em 25 de maio, a Reitoria fechou as portas do prédio e não deixou parte da comissão de negociação entrar. Ao agir assim e quebrar a regra da cultura democrática instituída, não era improvável que soubesse da reação dos estudantes que, impedidos de entrar, poderiam forçar a porta e fazer uma “invasão” relâmpago. Mas, depois dos acontecimentos de 2007, havia uma resolução do Conselho Universitário autorizando a Reitoria a chamar a polícia quando julgasse necessário, a qual foi aplicada. Docentes e estudantes sabem ensinar e estudar, principalmente. Talvez até, de um modo um tanto canhestro e desafinado, também saibam protestar. Alguns estudantes gritam e chegam a tirar cadeiras e pô-las diante das salas de aula, impedindo a entrada nelas – sinais de sua impotência, de sua insegurança e da desinformação acerca de outros canais de manifestação mais legítimos e eficazes, de que os professores (ainda) dispõem. Mas essa alegada “violência” estudantil não tem parâmetro com as armas usadas pela PM, treinadas para eliminar malfeitores, e descontentes... Inacreditavelmente, a atual reitora da Universidade de São Paulo pensa que sim! Isto é ofender a USP e todos os seus membros. Pretextando grupelhos, radicais e sabe-se lá mais o quê, a Reitoria entregou a direção da universidade a um comandante policial. Ao ser alertada por um docente de que a presença da polícia no campus poderia causar graves danos físicos e morais a membros da comunidade, e de que as armas utilizadas pelas tropas contemplavam escopetas e metralhadoras, a reitora limitou-se a dizer que a escolha das armas adequadas à ação policial não era da sua alçada. A reitora transferiu sua responsabilidade pela vida dos estudantes, professores e funcionários, das crianças e adolescentes que estudam na Escola de Aplicação, e de todos aqueles que livremente transitam pelo campus Butantã da USP, a um coronel da PM.Os professores da USP não estavam em greve. A campanha salarial e a carreira docente importam aos professores porque sabemos o efeito nefasto que salários aviltados causam ao ensino, como temos visto na precarização do ensino secundário. Os mais velhos se lembram de como o ensino médio público era padrão de qualidade para a escola privada, o que hoje nos parece um sonho desaparecido. A recuperação salarial nos importa para que a Universidade pública não passe a ter salários tão baixos que os melhores profissionais prefiram se afastar dela e servir apenas à iniciativa privada, com seu principal interesse no lucro, e levando ao desaparecimento das investigações independentes que interessam ao coletivo. Lutar por salários, todos sabem, é lutar por deixar uma universidade com melhor qualidade e para que a USP tenha o que comemorar daqui a 25 anos.Os estudantes da USP não estavam em greve. O temor relativo à Univesp, ou Universidade Virtual do Estado de São Paulo, provém da convicção de que a expansão virtual da Universidade se fará à custa da qualidade do ensino e em detrimento das políticas de permanência estudantil por que vêm lutando, da construção de salas de aula presenciais, bibliotecas, laboratórios, moradias e restaurantes universitários, temor compartilhado por alguns professores que relataram desconfianças na implantação do Programa. Todos estes são assuntos importantes para homens e mulheres que, trabalhando dentro da Universidade, abdicaram de ser meros consumidores e reprodutores de um saber para, com diversas dificuldades, se tornarem sujeitos de conhecimento, de ação e de transformação da sociedade. Requeriam, pois, que decisões dessa monta fossem tomadas com o conhecimento da ampla maioria da comunidade acadêmica, e não por decretos e resoluções. Todavia, recusando-se a negociar, a esclarecer, a Reitoria da USP teve como única resposta para a dificuldade do momento inventar uma ocupação para chamar a polícia. No dia 9 de junho os professores em assembléia, pensando em conjunto como retomar as negociações, ouviram tiros e gritos que dificilmente esqueceremos. Do prédio da Reitoria, de uma de suas janelas, umas dez cabeças assistiam ao lúgubre espetáculo de alunos e professores fugindo das bombas e sendo acuados no prédio da História. Apesar disso, e embora vários colegas tenham tentado contatos com a reitora, a fim de evitar um desfecho de proporções inimagináveis, ninguém, em momento algum, atendeu aos chamados dos docentes. Contatado, finalmente, o governador se calou: as armas já tinham falado por ele. Passado o furacão, reitoria e aliados vêm a público se manifestar e justificar atos injustificáveis. O tecido universitário está desfeito. Todos os que defendem uma universidade pública, com direito a discussões, propostas, ações solidárias e coletivas, deixamos de reconhecer a reitora como interlocutora de nossa prática acadêmica. É verdade que, dentro e fora da Universidade, há os que aprovam a ação da polícia, alegando destruição do patrimônio público; desqualificam a decisão das assembléias em favor da greve, apelando para o direito dos que querem aula, embora não compareçam a elas; contestam os piquetes de funcionários e alunos, argumentando serem contra uma “violência generalizada”. Essas mesmas vozes recorrem a proposições vagas e metafísicas, que, descoladas de seu contexto político, ridicularizam o direito “à diferença”, “à opinião” etc.; mas se calam diante de questões materiais decisivas para a Universidade estadual, como a destruição do patrimônio público perpetrada, esta sim, pela polícia e por fundações privadas instaladas no interior da USP. Negando o direito à greve e a piquetes, propõem em seu lugar que cada um faça o que bem entender, desde que confortavelmente instalados em seus gabinetes particulares, ao abrigo do espaço coletivo e presencial de discussão. Parecem supor que a condenação das assembléias de professores e estudantes é feita ainda em favor do direito do aluno, como pagador de impostos, de ter sua mercadoria-aula. Ao sobreporem a figura do consumidor à do cidadão, transferem a cultura da universidade privada para dentro da Universidade pública, transformando os grevistas em anti-cidadãos-vendedores que não cumprem sua parte no troca-troca do mercado – como se estes não pagassem também seus impostos e não tivessem direito a forma alguma de dissidência. Certamente que, assim, esse discurso cala-se diante da destruição da Universidade pública levada a cabo por governos neoliberais e encobre sua adesão à mesma ordem de coisas, sob a capa de uma pretensa motivação pacifista.Neste sentido, a Universidade deve se envergonhar de que uma parte do seu corpo docente e discente não condene a ação policial contra atos de caráter político: pois isso significa que essa parte não se importa com o coletivo e com o tipo de conhecimento e ética que estão sendo transmitidos nessa Universidade. A sociedade deve saber disso e querer que, na Universidade de São Paulo, os professores, os médicos, os arquitetos, os atores, os engenheiros, os biólogos, os psicólogos e todos os que aí se formam, com a contribuição de todos nós, visem mais ao bem coletivo que ao seu único e próprio lucro. E fazer parte da coletividade implica ter de olhar para além do seu escritório particular, do seu consultório e da sua sala de aula.Agora a Universidade de São Paulo está em greve, exigindo a retirada imediata e definitiva da polícia no campus, para que retornem as condições de diálogo entre todos os envolvidos. Mas desde que a Universidade foi violentada com a permissão, ou pior, a mando de seus dirigentes, os professores requerem que a atual reitora se afaste do cargo e torne a ser algo de que possa se orgulhar: professora. Oxalá, assim, o próximo reitor compreenda que uma universidade não se faz virtualmente, nem com tropas militares, mas com docentes, estudantes e funcionários preocupados com o ensino e com a pesquisa, e sobretudo, com fazer parte de uma menos triste humanidade. Essa carta foi enviada a diversos veículos de comunicação, mas por motivos óbvios, não foi publicada.

sábado, 13 de junho de 2009

Massa de Manobra

Eu sou a favor da greve na USP. Confesso que inicialmente estava resistente e nem um pouco tentada a aderir, as minhas preocupações eram o meu semestre que precisava ser terminado, e a minha maior motivação para um olhar favorável em relação a greve era o fato de que teria tempo para melhor estudar o meu japonês, e melhor aprender a desenhar os ideogramas (kanjis) . Que visão mais ridícula a minha! Não porque era a favor ou contra a greve, mas sim porque simplesmente não possuía base nenhuma para ser contra ou a favor, estava totalmente voltada para o meu próprio umbigo.
Uma colega minha de sala, uma mulher de outra geração me disse: " A geração de vcs, e as suas questões refletem o que vcs são, porque ao invés de discutirem se um está errado por causa da greve, e outro certo, vcs não discutem por exemplo as moradias do crusp, o fato de estudantes não terem um lugar, enquanto famílias estão lá... ou a PM?? A PM aqui é um erro, porque a PM não esteve aqui quando meninas foram estupradas por lá???". Isso que ela me falou, me fez pensar muito, me fez pensar no porque até o momento eu era contra a greve, e porque estava me sentindo tentada a ser a favor por causa da presença da PM. Espero que essas palavras sirvam para alguém refletir como serviram pra mim... Bom elas ainda me fizeram pensar em como eu podia depois de um mês de greve dos funcionários, um mês em que eu sequer podia usar o banheiro porque não tinha papel higiênico, como depois de um mês e de isso me afetar diretamente eu sequer tinha tido curiosidade de saber quais os motivos da paralisação deles... aff!! Tive vergonha de mim mesma!
Faço parte de um grupo na internet de alunos da fflch que entraram na universidade em 2008, esse grupo desde a entrada da PM na universidade discute as questões da greve; mas participar e falar sobre os assuntos ali também começou a me irritar porque as discussões não passavam de ofensas entre quem era contra ou a favor da greve. Foi essa irritação que me incitou a criar esse blog, mesmo que ele não tenha nenhuma necessidade de salvar o mundo.
Um colega postou um link intitulado "Afinal, o que querem os alunos da USP" do Marcelo Tas, um cara que estudou um monte de coisas, trabalhou na cultura fez parte da nossa infância, porém hoje é conhecido por ser um dos cabeças do programa CQC. Um "post" com esse título nos faz pensar que o que vc encontraria ali seria uma pergunta, um questionamento, o que de fato há, pórém é também parcial. Tudo bem, todo mundo pode ser parcial, eu estou sendo nesse momento, mas não seria melhor conhecermos melhor as questõess antes de opinarmos? Isso é o que digo sempre para mim mesma, toda vez que dou com a cara na parede quando uma opinião minha mostra-se ridícula. Bom, como o objetivo do meu blog não é salvar o mundo, deixo aos que se interessarem o link do "post" do Marcelo Tas, e juntamente o link do "post" de um tal de Tulio Viana que eu nem sei quem é (vou pesquisar), que um tal de Nassif postou e que o palpiteiro passou para frente, como disse esse link eu visualizei lendo o blog do palpiteiro, um antigo professor meu de cursinho, blog que leio religiosamente.
Apenas para contextualizar o "post" desse tal Tulio questiona o direito à greve, um direito que claramente está sendo violado com a repressão que a presença da PM impõe, e também denuncia uma mídia totalmente comprada e que publica apenas aquilo que lhe interessa. Eu estava na assembléia estudantil e pude ver como vários alunos se intimidam e não querem mais participar, se afastam quando um carro da PM se aproxima; pude ver como eu mesma me sinto tentada a fazer isso. Tudo bem é compreensível afinal o bem maior ainda continua sendo a vida, ao menos para alguns.
Bom, deleitem-se com as duas opiniões e muito mais do que criticar qualquer opinião, tenham a sua própria com fundamento, se precisar pesquise mais. Isso foi o que eu aprendi quando me percebi tão alienada e tão dentro apenas do meu mundo.
Segue a dica...
Beijos a todosssssss!
Keyth Costa.

http://tuliovianna.wordpress.com/2009/06/12/comandante-tinha-ordem-para-prender-lideres-da-greve-na-usp/

Marcelo Tas:
http://marcelotas.blog.uol.com.br/arch2009-06-01_2009-06-15.html#2009_06-12_11_42_02-5886357-0