Galera primeiro post em que eu terei que publicar o post de outrem. Isso porque eu considero essa linha de pensamento essencial para se conseguir uma opinião madura sobre as eleições desse ano. Pode não ser verdade absoluta mas nos ajuda a pensar. O blog do palpiteiro, meu ex professor de geografia do cursinho é um blog que sigo religiosamente, eu sempre encontro opiniões que obviamente seguem uma determinada preferência, mas que apesar disso não se mostra cega e nem apaixonada. Enfim serve demais para o amadurecimento das minhas idéias. O post diz respeito às eleições desse ano; acredite a leitura desse post só tende a acrescentar, então déleitem-se.
o blog do palpiteiro é <a href="http://www.opalpiteiro.blogspot.com/">http://www.opalpiteiro.blogspot.com/</a> deleite-se com os outros posts.
Abaixo segue o post do palpiteiro a que me refiro:
Saturday, March 20, 2010
É a região, estúpido!
Diariamente "analistas" de diferentes prestígios e pistolões palpitam na imprensa sobre a eleição presidencial de 2010. E se palpiteiros profissionais podem ser ouvidos, por que não um amador?
O noticiário tem passado a alguma distância da questão regional nessas eleições.
Pode-se falar tudo sobre índices de rejeição, porcentagens de intenções de votos e simulações de segundo turno. O que não se deve nunca negar é o fato de que há sim nesse país certos posicionamentos que derivam dos interesses regionais. O que em nada diminui suas motivações.
Nordestinos são mais politizados do que a mídia paulista e carioca gosta de pregar. Para os iluminados do sudeste, o nordestino é por definição um esfomeado que troca qualquer coisa, inclusive um voto, por uma cesta-básica, e hoje, um bolsa-família.
O que muita gente se esquece no sudeste é que nordestinos vivem a política há muito mais tempo que o resto do país. Muita gente se esquece que Salvador foi a primeira capital do país por alguns séculos. E que são Paulo não representava nada na economia e na política nacional até o século XIX.
O palpiteiro já conversou com baianos e pernambucanos sobre política. Em muitos casos saiu envergonhado ao constatar o quanto os nordestinos conhecem sobre a história de seus estados e o quanto os paulistas ignoram do seu. Faça uma teste: pergunte a qualquer paulistano o que foi que aconteceu em 1932. Se ouvir as bobagens de que "São Paulo queria se separar do Brasil" não estranhe, é a crença quase religiosa e ingênua que predomina por aqui.
Gaúchos são orgulhosos de sua história e muitas vezes guardam o rancor de serem mal reconhecidos por terem conservado fronteiras nacionais contra os "castelhanos", entenda-se argentinos. Gaúchos são bons na política: Vargas, Goulart e Geisel foram apenas alguns dos nomes que se destacaram por lá. Para não falar de Leonel Brizola.
Há na mídia do eixo Rio-São Paulo a pregação de que as eleições de 2010 serão um tipo de confronto entre o nordeste atrasado e o centro-sul moderno. O voto dos pobres, famintos e ignorantes contra o voto dos mais ricos, sarados e intelectuais. Nada mais estúpido.
Lula escolheu Dilma para sucessora quando a mídia brasileira martelava que ele queria um terceiro mandato. Enquanto tucanos e demos se preocuparam em mandar e-mails infantis com teorias conspiratórias, Lula articulava o nome de Dilma em diferentes Estados. Dilma é mineira, com carreira política no Rio Grande do Sul e bom relacionamento com empresários paulistas e cariocas. Lula certamente levou isso em conta.
Contra Dilma surge Serra. Aquele político que quando era senador pregava a discussão sobre a proporcionalidade parlamentar. Ou seja, Serra foi o corajoso que nas décadas de 1980 e 1990 dizia que São Paulo tinha que ter mais deputados e o nordeste e o norte menos. Esse mesmo Serra pede votos para gente do nordeste e do norte. Quando as pesquisas indicam o contrário os palpiteiros de plantão preferem chamar o eleitor de ignorante, não de coerente.
Hoje há um desafio em discussão no Brasil que são os royalties do petróleo. Para quem não sabe, desde 3 de outubro de 1953 todo o petróleo existente em subsolo nacional pertence à União, ou seja, à federação dos 26 Estados e 1 distrito federal. Se qualquer empresa, nacional ou estrangeira, retirar um barril de petróleo, haverá de prestar contas com o dono dele, a saber, a União.
Desde 1997, no governo FHC, essa grana é distribuída da seguinte forma: 51% para o estado e municípios produtores. 49% são divididos entre a Marinha (15%), Ministério da Ciência e Tecnologia (25%), 7,5% para um fundo a ser dividido pelos demais estados e municípios do país.
Cada percentual desse tinha uma justivifativa. Os Estados produtores tem custos econômicos e ambientais para abrigarem as atividades petrolíferas. À marinha cabe a fiscalização e ação em casos de acidentes, o que justifica uma grana a mais para embarcações e pessoal. Uma vez que o petróleo é uma fonte esgotável, nada mais sensato do que parte de seus ganhos financiem fontes de energia alternativas, necessárias para a sua substituição.
Enquanto o Brasil sabia que seu petróleo estava concentrado em Campos, RJ, não havia grandes discussões.
Mas hoje sabemos que há uma quantidade enorme de petróleo numa área que se estende desde o ES até SC. Nessa área, em camadas mais profundas há grandes jazidas, no chamado Pré-sal.
Petróleo novo, recursos maiores, discussão nova.
Com tanto dinheiro para jorrar, surgiu uma pergunta: por que ES. RJ, SP, PR e SC deveriam concentrar riquezas e ganhos de um recurso que é da União? Se a Petrobrás é mantida com recursos da União, nada mais justo do que dividir seus ganhos entre os Estados da Federação. Idéia simples, faltando apenas combinar com os estados que perderiam esses recursos.
Uma discussão serena seguiria um caminho lógico: o que estados produtores como RJ e ES recebem hoje não mudaria. E o futuro é que se discutisse. A divisão seria feita pelos ganhos futuros, a não pelos atuais.
A solução parece ser mesmo essa. Partilha de ganhos futuros e respeito a ganhos do presente. Sérgio Cabral e Eduardo Paes, governador e prefeito do RJ aproveitaram a onda. Estão fazendo um estaradalhaço, dando a entender que "estão querendo assaltar o RJ". Insuflam a população fluminense a se sentirem vítimas e omitem que a discussão ainda vai para o Senado, onde a proposta de partyilha poderá ser alterada. Cabral e Paes são espertos e jogam o jogo certo: acenam para a galera como defensores regionais em um ano de eleição. Cabral quer se reeleger em 2010 e Paes em 2012.
E Serra? O que tem dito Serra? Diz que defende a partilha para os demais estados mas que o RJ deve ser respeitado no seu direito atual. Ou seja, não é contra e nem a favor, muito pelo contrário. Serra sabe que deve se aliar a Cabral, pois SP também perderia com a atual proposta em discussão, pois se tornaria um futuro grande produtor. Como governador de SP, Serra deveria bradar como Cabral. O problema é depois pedir voto para mineiros, gaúchos e baianos, que perderiam os recursos futuros do pré-sal.
Lula armou uma arapuca para Serra. Se for a favor da atual lei queima o filme com cariocas e capixabas. Se for contra, perde pontos com o resto do país.
Essas eleições terão o componente regional como algo decisivo. A pretensa idéia de que "nordeste versus centro-sul" será o tom é falsa. Há um mito de que os gaúchos votarão em Serra em peso. Isso tendo uma política com carreira no RS como Dilma e uma mala-sem-alça atolada em escândalos de corrupção como Yeda Crusius. A tese de que o Sudeste é Serra também emtre em colapso quando cariocas sabem o quanto a indústria naval cresceu nos últimos anos no estado e o quanto a Petrobrás representa no PIB do RJ. E tendo Serra como o cara do PSDB, aquele partido que defendia a privatização da Petrobrás no governo FHC.
Como se vê, esses e outros componentes serão muito importantes para cada um definir seu voto. Quem queiser que acredite no peso eleitoral de Marina Silva. Candidata com discurso interessante e atraente. Mas com base eleitoral no Acre...
Não faria mal aos palpiteiros de plantão olharem um pouco o mapa do Brasil e os dados do IBGE sobre população. Um pouqiunho de geografia num palpite não lhes faria mal.
Fonte: http://opalpiteiro.blogspot.com/2010/03/e-regiao-estupido.html#links